quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Evolução do emprego em Cabo Verde



No período 1989-2009 foram criados cerca de 143.500 empregos[1], dos quais 54% nos últimos 5 anos (2005-2009). A maioria destes empregos foi criada nos sectores da construção, comércio e alojamento e restauração. Verificamos que os anos com maiores postos de trabalhos criados são os que antecedem as eleições. E estes empregos são normalmente precários. 

O período 1995-1999 foi o de maior média anual de crescimento do PIB per capita real (6,1%) e neste período o crescimento médio anual do emprego foi de 2,6% (foram criadas um total de 18.432 empregos). O período 2005-2009 foi o de maior média anual de postos de trabalhos criados, 10,9% (corresponde ao total de 77.918 empregos) e a média anual do PIB per capita foi também robusta (6%). O forte crescimento do emprego em 2009 é explicado em parte pela nova abordagem do cálculo do desemprego, pois neste ano o crescimento do PIB per capita real foi de apenas 2,7%. 

Considerando 2009 um ano outlier, no período 1989-2008 a média anual do crescimento do emprego (3,9%) foi inferior ao crescimento do PIB per capita real (4,4%). O crescimento do PIB per capita em Cabo Verde apesar de ser robusto comparando com os outros pequenos países Africanos, não tem traduzido numa criação de empregos em actividades altamente qualificados e de elevado valor acrescentado, facto este que podemos constatar nas análises que se seguem.

Figura1: Evolução do emprego e da taxa de crescimento do PIB per capita real
Fonte: UNCTAD e INE (inquérito ao emprego 2009)

Em termos de distribuição dos empregados por ramos de actividades, nos anos 2000 e 2005 a “agricultura e pesca” foi o ramo com maior concentração de empregados, 23% e 29%, respectivamente. Já em 2010 a maior concentração é no ramo do “comércio” com 14% e “agricultura e pesca” é terceiro maior, com 10%.
Comparando os dados de 2000 e 2005, verificamos que com a excepção do sector “agrícola e pesca” (há criação de cerca de 3.500 empregos) houve destruição de emprego em praticamente todos os ramos de actividades (foram perdidos cerca de 23.980 postos de trabalho). Em relação aos dados de 2005 para 2010 o sector “agrícola e pesca” é o único com perda de empregos (cerca de 17.680 postos de trabalho) e nos restantes sectores há criação de empregos, sendo os destaques para “construção”, “comércio” e “actividades administrativas e serviços de apoio”. O “comércio” é o ramo com maior número de empregados em 2010, ultrapassando assim “Agricultura e pesca”.

Quadro1: Ramos de actividade económica
Ramo de actividade económica
Censo 2000
ISE-2005
Censo 2010
Agricultura e pesca
32.597
36.141
18.461
Indústrias extractivas
1.276
1.177
1.649
Indústrias transf. electricidade, água
11.054
8.981
11.602
Construção
16.157
10.796
22.022
Comércio (grosso e retalho)
24.093
19.807
25.394
Transportes, armazenag. comunicação
8.220
6.320
10.029
Alojamento e restauração
3.543
3.777
6.476
Act. financeiras, seguros, imobiliárias
2.268
1.045
1.960
Act. administrativa e serviços de apoio
--
2.104
8.061
Administ. pública e segurança social
20.267
14.175
16.732
Educação
8.220
8.167
9.708
Saúde humana e acção social
1.842
1.792
2.629
Famílias empregadoras de domésticas
6.378
5.501
8.583
Outras actividades de serviços
5.810
3.845
5.203
Não respondeu

2.117
31.175
Total
141.725
125.745
179.684
Fonte: INE: Censo 2000, Censo 2010; IEFP: Inquérito ao emprego (ISE-2005)

A maioria dos empregados cabo-verdianos são “trabalhadores não qualificados”, mas tem havido uma redução, ou seja, no ano 2000 o peso dos “trabalhadores não qualificados” no total de empregados foi de 30%, no ano 2005 aumentou ligeiramente para 32% e em 2010 baixou para 25%. Os “agricultores e pescadores” são as profissões que seguem com peso de 22% e 17% nos anos 2000 e 2005, respectivamente. Em 2010 “pessoal de serviços e vendedores” com 23% foi o segundo com maior peso no total de empregados. Comparando os dados de 2005 e 2000, verificamos que os “técnicos superiores” e os “técnicos e profissionais de nível intermédio” foram praticamente as únicas profissões com aumento de emprego, o que traduz numa melhoria da qualificação dos empregados. Nas outras profissões houve destruição de empregos. E, para dados de 2010 em relação à 2005, há aumento de “especialistas” em detrimento dos “técnicos superiores” e “técnicos e profissionais de nível intermédio” que diminuíram. O maior aumento verificou-se no “pessoal dos serviços e vendedores” e a maior redução no “agricultores e pescadores”. 

Quadro2: Profissão
Profissão
Censo 2000
ISE-2005
Censo 2010
Forças Armadas
227
305
826
Quadro superior da Adm. Pub e Q. Superior
1.390
6.044
4.330
Especialistas
6.660
4.731
10.843
Técnico e profissionais de nível intermédio
6.434
7.374
6.230
Pessoal Administrativo e Similares
4.647
4.122
5.685
Pessoal dos serviços e vendedores
21.555
16.385
40.635
Agricultura e pescador
31.432
21.960
12.637
Operários, artificies e similares
20.271
19.115
25.980
Operários de máquinas e trab. de montagem
6.190
5.271
6.113
Trabalhadores não qualificados
42.919
40.199
45.094
Não respondeu

239
21.311
Total
141.725
125.745
179.684
Fonte: INE: Censo 2000, Censo 2010; IEFP: Inquérito ao emprego (ISE-2005)

Com isto concluímos que em Cabo Verde a volta de 60% dos empregos são ocupados por trabalhadores não qualificados ou de baixa qualificação. O sector terciário emprega a volta de 54% dos trabalhadores, e em termos de ramos de actividades a agricultura e pesca tem sido substituído por construção e comércio como actividades que empregam mais trabalhadores.


[1] Engloba a renovação e criação de novos postos de trabalho.