A
dívida pública cabo-verdiana decresceu entre 2001 e 2008, passando de 84,1%
para 68,2% do PIB. As reformas introduzidas no âmbito do programa PSI (Policy
Support Instrument) assinado com o FMI em 2006 (estabelece limite da dívida
pública em 70% do PIB para o ano 2009) tiveram grande contributo na diminuição
da dívida. Esta redução verificou-se, principalmente, na dívida externa. Nos
anos seguintes (2009, 2010 e 2011) a dívida pública volta a aumentar, atingindo
87,5% do PIB em 2011, o que representa crescimento de 28% em relação ao stock
de 2008. Este aumento aconteceu, sobretudo, na parcela dívida externa, que
cresceu de 46,4% para 67,2% do PIB entre 2008 e 2011. O forte crescimento da
dívida externa é justificado pelos projectos de infra-estruturação do país e pela aproximação
do fim do prazo de empréstimos concessionais devido a graduação de Cabo Verde ao
país de desenvolvimento médio, levou o Governo a aumentar os empréstimos para aproveitar as condições mais favoráveis. Cerca de 82% do stock da dívida externa
corresponde a empréstimos concessionais, por tanto, em condições bastantes
favoráveis (longo período de amortização cerca de 30 anos e baixa taxas de juro
a volta de 1%).
A
dinâmica do rácio da dívida pública pelo PIB é analisada através dos impactos
do juro e do crescimento do produto na dívida mais a contribuição do rácio do
saldo orçamental primário pelo PIB:
Onde:
dt – Dívida pública em função do PIB no ano t
r – Taxa de juro real
y – Taxa de crescimento real do PIB
φ – Saldo orçamental primário em função
do PIB
Analisando a dinâmica da dívida pública, pelo comportamento
da variável (∆dt), entre 2001 e 2011 há sempre aumento da dívida com
excepção do ano 2007. Apesar da taxa de juro real implícita ser sempre inferior
à taxa de crescimento real do PIB, o saldo orçamental primário foi sempre
negativo (com valores elevados) contribuindo assim para deterioração do stock
da dívida pública. No ano 2007 o baixo saldo orçamental primário negativo
(-1,9% do PIB) permitiu absorver 2,5 pontos percentuais da dívida pública em
função do PIB.
A superioridade da taxa de crescimento do PIB real
em relação à taxa de juro real implícita (devido ao baixo valor das taxas de
juro sobre dívida externa), permite que o governo estabilize a dívida pública
mesmo tendo saldo orçamental primário negativo (valores da variável SOP
estabilizar). O peso dos juros pagos no PIB tem sido sempre inferior a taxa de
crescimento do PIB, tornando assim os juros suportáveis.
Variáveis
|
2001
|
2002
|
2003
|
2004
|
2005
|
2006
|
2007
|
2008
|
2009
|
2010
|
2011
|
Dívida
pública (%PIB)
|
84,1
|
87,4
|
83,0
|
82,7
|
84,1
|
78,4
|
72,1
|
68,2
|
74,4
|
77,6
|
87,5
|
Tx
Juro real implícito
|
1,0
|
3,8
|
-1,3
|
4,1
|
4,2
|
-0,1
|
1,1
|
-0,8
|
-2,0
|
-1,0
|
-1,9
|
Tx.
PIB real (crescimet.)
|
3,5
|
5,5
|
4,7
|
5,0
|
5,6
|
8,2
|
6,7
|
6,1
|
4,0
|
5,6
|
5,1
|
SOP
(%PIB)
|
-9,4
|
-7,6
|
-6,6
|
-5,8
|
-9,4
|
-8,2
|
-1,9
|
-5,6
|
-12
|
-18
|
-12
|
∆dt
|
7,4
|
6,1
|
1,3
|
5,1
|
8,2
|
1,2
|
-2,5
|
0,6
|
7,7
|
13,2
|
6,1
|
SOP
estabilizar (%PIB)*
|
-2,0
|
-1,4
|
-5,3
|
-0,8
|
-1,2
|
-7,0
|
-4,4
|
-5,0
|
-4,1
|
-4,9
|
-5,4
|
Juros
pagos (%PIB)
|
1,9
|
3,0
|
2,5
|
2,5
|
2,2
|
2,0
|
1,8
|
1,6
|
1,6
|
1,8
|
1,7
|
Fonte:
BCV e cálculos do autor; SOP (Saldo Orçamental Primário)
* Refere ao saldo
orçamental primário em função do PIB, necessário para estabilizar a dívida
externa em cada ano, considerando o valor da dívida em t-1.
Com
o fim dos empréstimos concessionais, Cabo Verde (em principio a partir de 2015)
irá enfrentar taxas de juro dos empréstimos externos maiores e com prazos dos
reembolsos menores, o que significa aumento do encargo com as dívidas externas
no orçamento do Estado. No Relatório do FMI nº12/29 está previsto, a partir de
2017, taxas de juro efectivo médio anual de 3,7% e taxa de crescimento médio
anual do PIB real de 5,5%. E, considerando um cenário com saldo primário nulo
(que não é o caso previsto no relatório, onde espera-se um saldo primário
negativo de -3% do PIB em 2021 e de -1% do PIB em 2031), a dívida pública
atingirá o limite de 60% do PIB apenas em 2034, consoante o cenário básico da Figura 1. Mas, caso o saldo primário
for igual ao previsto no relatório, ou seja, uma média anual de -1,9% do PIB no
período 2017-2031, para evitar uma situação explosiva da dívida pública em
função do PIB, o crescimento médio anual do PIB real terá que ser no mínimo de
6,5%, mantendo a taxa de juro efectivo a volta dos 3,7% ou então, no caso de o
ajuste ser a nível da taxa de juro, esta deve ser no máximo 3%, com taxa de
crescimento médio anual do PIB real de 5,5%.
Considerando
a hipótese do PIB real crescer à uma média de 2 pontos percentuais inferior ao
previsto, o rácio da dívida pública em função do PIB assume uma trajectória
crescente, transformando num processo explosivo. E, se o PIB real crescer apenas
1 ponto percentual inferior ao previsto, o rácio da dívida pública em função do
PIB passa a ter comportamento decrescente, mas muito lento. Figura 1
Se
a variação acontecer a nível da taxa de juro, com o aumento de 0,7 pontos
percentuais, o rácio da dívida pública pelo PIB mantém a comportamento
decrescente, conforme a Figura 2.
Assim,
para evitar uma situação explosiva da dívida pública, o Governo deve reduzir o
défice do saldo orçamental primário ou então aplicar políticas que conduzam ao
maior aumento do PIB real, uma vez que o poder de influência sobre as taxas de
juro externa aplicada é praticamente nulo.