Analisando
o PIB na óptica da produção, mais concretamente o valor acrescentado bruto
(VAB), no período 1971-2010, o sector dos serviços é a parcela com maior
contributo no crescimento do VAB, cresceu à taxa média anual real de 5,4% e com
peso médio anual no VAB de 65,5%, seguido do sector secundário com taxa média
anual de crescimento 4,9% e peso médio anual de 17,5% do VAB e por último o
sector primário com taxa média anual de 2,8% e peso médio anual de 17% do VAB. O
peso do sector primário no VAB diminuiu ao longo do período, passou de 23% no
inicio dos anos setenta para 9% nos últimos anos da década 2000. O sector dos
serviços teve comportamento inverso, ou seja, o peso no VAB passou de 61% no
inicio dos anos setenta para 74% nos últimos anos. O sector secundário manteve
relativamente constante, a volta dos 17% do VAB. (Usamos como fonte de dados:
Banco Mundial (1982), World Development Indicators, Relatórios do BCV (1985,
1999 a 2012), III Plano de Fomento, IV Plano de Fomento, I PND, II PND, III PND,
PND (2002-2005) e Programa do Governo (VII Legislatura, 2006-2011)).
Década
1971-1980
O
VAB cresceu à taxa média anual real de 1,18%. O sector com maior taxa média
anual de crescimento real é o "agrícola" (3,7%), apesar de apenas 10% da
superfície cabo-verdiana ser arável e praticava-se uma agricultura de
subsistência, em condições ecológicas desfavoráveis e foi fortemente afectada
pela seca que assolava o país desde 1968. O sector "industrial" e o da "construção"
cresceram à taxa média anual real de 1,3% e 0,6%. O sector de "restaurantes,
comércio e hotéis" é o com maior peso no VAB (26,4%). O fraco desempenho do
sector produtivo está associado ao facto de a administração Colonial ter
deixado Cabo Verde com alta taxa de analfabetismo (cerca de 50%), sistema de
ensino pouco adaptado a realidade do país, fraco aparelho produtivo,
infra-estruturas económicas praticamente inexistente, alta taxa de
subutilização da força de trabalho (60%), total dependência económica do
exterior (ajudas, remessas e importações) e nível de satisfação das necessidades
básicas bastante baixo.
Em 1977 houve instauração da zona económica exclusiva para 200 milhas, mas em
termos práticos isto não se traduziu num aumento significativo de captura de
peixes, uma vez que apenas 20% do total da área era explorada, contudo há maior
diversificação do pescado, estendendo para outras espécies mais valiosas
(crustáceos e moluscos).
Década
1981-1990
O
VAB cresceu à taxa média anual real de 5,32%. O sector "industrial" apresenta a
maior taxa média anual de crescimento (9,8%) seguido do sector dos "transportes
e comunicações" (8,9%). Este crescimento do sector "industrial" está associado aos
investimentos feito, principalmente, pelo governo no seguimento da política de
industrialização para substituição das importações. O nível de crescimento no ramo
dos "transportes e comunicações" deve-se aos investimentos realizados (aeroporto
do Sal e estaleiro de reparação naval em São Vicente), que permitiram maior
prestação de serviços ligados ao tráfego aéreo e marítimo. No I PND (1982-1985)
o sector "industrial" e dos "serviços" são indicados como motores para o
desenvolvimento económico, devido a posição geográfica favorável de Cabo Verde.
Década
1991-2000
O
VAB cresceu à taxa média anual real de 6,49%. O sector com maior taxa média
anual de crescimento foi "transportes e comunicações" (12,8%). O aumento do
turismo e da prestação de serviços ligado ao tráfego aéreo foram os principais
impulsionadores deste nível de crescimento. O sector "industrial" cresceu à taxa
média anual de 7,8%, motivado pelo surgimento de novas empresas industrias (de
capitais internos e externos) e pela modernização das unidades existentes, com
a liberalização económica e a promoção do sector privado. O sector com maior
peso no VAB é o das outras "actividades"[1]
com 28%. Há redução do peso do sector "agrícola" no VAB, devido aos vários
períodos de seca e a aposta do Governo no desenvolvimento do sector dos
"serviços".
Década
2001-2010
O
VAB cresceu à taxa média anual real de 5,67%. O ramo de "comércios, restaurantes
e hotéis" foi o que mais cresceu (8,4%), seguido das "construções" (7,5%). O
crescimento do sector dos "comércios, restaurantes e hotéis" está associado ao
grande dinamismo e desenvolvimento do turismo ao longo da década. No entanto, temos
alguns anos com alguma desaceleração como 2001 e 2002 devido aos impactos nos
voos internacionais causados pelo atentado terrorista de 11 de Setembro nos
EUA, e 2008 e 2009 pelo abrandamento da actividade económica na UE que é o
principal mercado de origem dos turistas que visitam Cabo Verde. O crescimento
no sector da "construção" é motivado pela política de infra-estruturação do país
seguido pelo governo e pelos IDE ligados ao turismo (construções de hotéis e
resorts).
A década 1991-2000 foi o de maior crescimento médio anual no VAB fruto do forte aumento verificado nos serviços ligados ao "transportes, armazenamento e comunicação". Pelos dados apresentados constatamos que o crescimento do VAB é explicado,
principalmente, pelo sector dos serviços e dentro deste sector o maior contributo
é do ramo de transportes e comunicações, mas actualmente o maior impacto tem
sido dos serviços ligados às viagens, graças ao forte crescimento do turismo em Cabo Verde.
[1] Engloba serviços financeiros e
seguros, educação, administração pública, saúde e acção social, actividades
artísticas e espectáculos, serviços de pessoal domésticos e outras actividades
de serviços
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