segunda-feira, 4 de março de 2013

Evolução e decomposição do PIB cabo-verdiano, óptica da produção



Analisando o PIB na óptica da produção, mais concretamente o valor acrescentado bruto (VAB), no período 1971-2010, o sector dos serviços é a parcela com maior contributo no crescimento do VAB, cresceu à taxa média anual real de 5,4% e com peso médio anual no VAB de 65,5%, seguido do sector secundário com taxa média anual de crescimento 4,9% e peso médio anual de 17,5% do VAB e por último o sector primário com taxa média anual de 2,8% e peso médio anual de 17% do VAB. O peso do sector primário no VAB diminuiu ao longo do período, passou de 23% no inicio dos anos setenta para 9% nos últimos anos da década 2000. O sector dos serviços teve comportamento inverso, ou seja, o peso no VAB passou de 61% no inicio dos anos setenta para 74% nos últimos anos. O sector secundário manteve relativamente constante, a volta dos 17% do VAB. (Usamos como fonte de dados: Banco Mundial (1982), World Development Indicators, Relatórios do BCV (1985, 1999 a 2012), III Plano de Fomento, IV Plano de Fomento, I PND, II PND, III PND, PND (2002-2005) e Programa do Governo (VII Legislatura, 2006-2011)).
Década 1971-1980
O VAB cresceu à taxa média anual real de 1,18%. O sector com maior taxa média anual de crescimento real é o "agrícola" (3,7%), apesar de apenas 10% da superfície cabo-verdiana ser arável e praticava-se uma agricultura de subsistência, em condições ecológicas desfavoráveis e foi fortemente afectada pela seca que assolava o país desde 1968. O sector "industrial" e o da "construção" cresceram à taxa média anual real de 1,3% e 0,6%. O sector de "restaurantes, comércio e hotéis" é o com maior peso no VAB (26,4%). O fraco desempenho do sector produtivo está associado ao facto de a administração Colonial ter deixado Cabo Verde com alta taxa de analfabetismo (cerca de 50%), sistema de ensino pouco adaptado a realidade do país, fraco aparelho produtivo, infra-estruturas económicas praticamente inexistente, alta taxa de subutilização da força de trabalho (60%), total dependência económica do exterior (ajudas, remessas e importações) e nível de satisfação das necessidades básicas bastante baixo. Em 1977 houve instauração da zona económica exclusiva para 200 milhas, mas em termos práticos isto não se traduziu num aumento significativo de captura de peixes, uma vez que apenas 20% do total da área era explorada, contudo há maior diversificação do pescado, estendendo para outras espécies mais valiosas (crustáceos e moluscos).
Década 1981-1990
O VAB cresceu à taxa média anual real de 5,32%. O sector "industrial" apresenta a maior taxa média anual de crescimento (9,8%) seguido do sector dos "transportes e comunicações" (8,9%). Este crescimento do sector "industrial" está associado aos investimentos feito, principalmente, pelo governo no seguimento da política de industrialização para substituição das importações. O nível de crescimento no ramo dos "transportes e comunicações" deve-se aos investimentos realizados (aeroporto do Sal e estaleiro de reparação naval em São Vicente), que permitiram maior prestação de serviços ligados ao tráfego aéreo e marítimo. No I PND (1982-1985) o sector "industrial" e dos "serviços" são indicados como motores para o desenvolvimento económico, devido a posição geográfica favorável de Cabo Verde.
Década 1991-2000
O VAB cresceu à taxa média anual real de 6,49%. O sector com maior taxa média anual de crescimento foi "transportes e comunicações" (12,8%). O aumento do turismo e da prestação de serviços ligado ao tráfego aéreo foram os principais impulsionadores deste nível de crescimento. O sector "industrial" cresceu à taxa média anual de 7,8%, motivado pelo surgimento de novas empresas industrias (de capitais internos e externos) e pela modernização das unidades existentes, com a liberalização económica e a promoção do sector privado. O sector com maior peso no VAB é o das outras "actividades"[1] com 28%. Há redução do peso do sector "agrícola" no VAB, devido aos vários períodos de seca e a aposta do Governo no desenvolvimento do sector dos "serviços".
Década 2001-2010

O VAB cresceu à taxa média anual real de 5,67%. O ramo de "comércios, restaurantes e hotéis" foi o que mais cresceu (8,4%), seguido das "construções" (7,5%). O crescimento do sector dos "comércios, restaurantes e hotéis" está associado ao grande dinamismo e desenvolvimento do turismo ao longo da década. No entanto, temos alguns anos com alguma desaceleração como 2001 e 2002 devido aos impactos nos voos internacionais causados pelo atentado terrorista de 11 de Setembro nos EUA, e 2008 e 2009 pelo abrandamento da actividade económica na UE que é o principal mercado de origem dos turistas que visitam Cabo Verde. O crescimento no sector da "construção" é motivado pela política de infra-estruturação do país seguido pelo governo e pelos IDE ligados ao turismo (construções de hotéis e resorts). 

 
A década 1991-2000 foi o de maior crescimento médio anual no VAB fruto do forte aumento verificado nos serviços ligados ao "transportes, armazenamento e comunicação". Pelos dados apresentados constatamos que o crescimento do VAB é explicado, principalmente, pelo sector dos serviços e dentro deste sector o maior contributo é do ramo de transportes e comunicações, mas actualmente o maior impacto tem sido dos serviços ligados às viagens, graças ao forte crescimento do turismo em Cabo Verde.




[1] Engloba serviços financeiros e seguros, educação, administração pública, saúde e acção social, actividades artísticas e espectáculos, serviços de pessoal domésticos e outras actividades de serviços

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