segunda-feira, 4 de março de 2013

Evolução e decomposição do PIB cabo-verdiano, óptica das despesas



O comportamento do PIB no período 1970-2010 é explicado, na óptica das despesas interna, em grande parte pelo consumo da família, que cresceu à taxa média anual real de 4,64% e com peso médio anual no PIB de 77%, seguido das despesas de formação bruta do capital com taxa média anual de crescimento real de 6,16% e peso médio anual de 39% do PIB e por último as despesas do governo com crescimento médio anual de 5,5% e peso médio anual no PIB de 20,6%. O forte crescimento nas despesas internas, não se traduziu em crescimentos substanciais no PIB, visto que grande parte dos bens consumidos são importados. As exportações e importações cresceram às taxas médias anuais reais de 6,2% e 5,6% e com pesos médios anuais no PIB de 18,9% e 55,8%, respectivamente. (Usamos como fonte de dados: Banco Mundial (1985), World Development Indicators, Relatórios e contas do BCV (1985, 1999 a 2012), III Plano de Fomento, IV Plano de Fomento, I PND, II PND, III PND, PND (2002-2005) e Programa do Governo (VII Legislatura, 2006-2011).
Década 1971-1980
É o período de menor crescimento do PIB real em Cabo Verde, com taxa média anual de 1,14%. Neste período há duas depressões, em 1975 e 1977 com decréscimo de -16,9% e -5%, respectivamente. Em 1975 foi a independência de Cabo Verde e a taxa da inflação foi de 34%, o que pode justificar esta redução drástica em termos reais em todas as variáveis económicas. No período 1972-1977 há fraco crescimento do PIB real que pode estar ligado a luta armada pela independência e a transição política (entre 1975 e 1980 Cabo Verde e Guiné-Bissau foram governados de forma conjunta, Banco Mundial (1985)). O consumo das famílias, a formação bruta de capital e as importações tiveram um crescimento médio anual baixo, 1,8%, 0,5% e 1%. O governo e as exportações tiveram uma variação média anual negativa de -0,2% e -0,1%, respectivamente.
Década 1981-1990
A taxa do crescimento médio anual do PIB real foi de 6,16%. As despesas das famílias é o componente com maior peso no PIB, e o consumo do governo a parcela com maior taxa de crescimento (média anual real de 9%). Este comportamento do consumo do governo deve-se ao aumento do número de empresas públicas e mistas, institutos públicos, serviços autónomos e serviço da dívida. A formação bruta do capital também cresceu à uma taxa significativa (6%), justificado em parte, pelas obras no aeroporto da Ilha do Sal e no estaleiro de reparação naval na Ilha de São Vicente. As exportações cresceram à taxa média anual de 6,6%, graças aos serviços ligados aos transportes aéreos. Influenciado fortemente pelo consumo interno as importações cresceram à taxa média anual real de 5,8%. 
            Década 1991-2000
O crescimento médio anual do PIB real foi de 7,93%. As exportações reais cresceram à taxa média anual de 11%, sendo o componente com maior crescimento. Este maior crescimento deve-se às empresas francas que instalaram em Cabo Verde (exportações de produtos manufacturados - calçados e confecções) e à expansão do sector do turismo e dos serviços ligados ao transporte aéreo e marítimo. O consumo das famílias continua a ser a parcela com maior peso no PIB e cresceu à taxa média anual real de 7,3%, motivado pelo reforço de confiança no sector privado, aumento do rendimento disponível (aumento dos salários reais com a estabilidade dos preços) e diminuição nas taxas de juro reais. O menor crescimento no consumo do governo (6%) em relação à década passada está associada a políticas de contenção aplicadas, com o objectivo de estabelecer o equilíbrio monetário, orçamental, fiscal, taxa de câmbio e aumento das reservas externas. A formação bruta do capital com crescimento média anual de 5,8%, foi o componente com menor crescimento. As importações cresceram à taxa média anual de 7,3%, motivado pela liberalização do mercado e investimentos públicos realizados.
Década 2000-2010
O PIB real cresceu à taxa média anual de 7,02%. A formação bruta de capital é o componente com maior taxa de crescimento médio anual, 12,3%, fruto da maior entrada do IDE e dos investimentos públicos em infra-estruturas, bens e equipamentos e material de transporte. O consumo das famílias cresceu à taxa inferior (4,8%) ao da década anterior e o menor crescimento nos anos finais da década deve-se as incertezas quanto as perspectivas do rendimento em resultado da instabilidade criada pela crise financeira internacional. As exportações cresceram à taxa média anual de 7% e também há aumento do peso no PIB em cerca de 2 pontos percentuais, em relação as médias anuais das décadas anteriores. Este nível de crescimento nas exportações deve-se a evolução favorável do sector do turismo, serviços ligado ao tráfego aéreo e produtos da pesca. As importações cresceram à taxa média anual real de 8,2% justificado pela dinâmica de crescimento da economia nacional (bens intermédio e de capital em virtude da infra-estruturação do país, serviços de comunicação, informáticos, empresariais e técnicos). O consumo do Governo cresceu à taxa média anual real de 6,9% e há ligeira diminuição no peso do PIB em relação as médias anuais das décadas anteriores. 
 

Cabo Verde pelas suas características (como: reduzido mercado interno, estado insular e escassez de recursos naturais), apresenta nível de crescimento económico bastante satisfatório no período 1970-2010,  com taxa média anual de crescimento do PIB real (4,79%). A década 1991-2000, foi a de maior taxa de crescimento médio anual. Na óptica das despesas, o consumo das famílias foi a parcela com maior peso no crescimento do PIB, no período 1970-2000, e na década 2001-2010 foi a formação bruta do capital, traduzindo assim, numa maior afectação dos recursos ao investimento em detrimento do consumo presente. 

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