sábado, 14 de maio de 2011

FMI, Doing Business ou Standard & Poor’s?

Nos últimos artigos aqui apresentados, os comentadores questionaram da imparcialidade dos mesmos, só por ser contra as medidas tomadas pelo governo. A despeito disso sem querer criei uma frase: “a economia é uma ciência, tem as suas leis, não é futebol que se discute pelo gosto”. A questão dos artigos anteriores resume-se nos problemas que o país irá enfrentar nos próximos tempos.


Porque é que Cabo Verde enfrentará grave problemas de crescimento, do desemprego e do acesso ao capital externo nos próximos anos? O elevado nível da dívida pública a par de excessivo défice e, ainda com o problema do crescimento do produto trazem dois grandes problemas cruciais para a economia nacional. Primeiro, o que já está confirmado, limita fortemente o acesso ao capital externo, agravando o custo da sua obtenção. Agora o país terá de pagar mais pelos seus empréstimos e custa-lhe encontrar financiadores. Com isso as restrições orçamentais do governo agrava-se e os sectores mais “fracos” serão prejudicados, uma vez que são sempre os mais sacrificados para contornar a situação. E ainda neste problema, os empréstimos tornar-se-ão mais caros o que vai dificultar o investimento tanto nacional como externo, pois o custo de financiamento externo tornar-se-á mais elevado, dado o aumento da taxa de juros.


Mas o problema não fica por aqui. Tendo em conta este primeiro problema, leva assim ao segundo, a fuga de capital. Com o aumento da dificuldade no acesso aos capitais externos e o consequente agravamento dos custos, adicionando ainda o problema inicial da dívida externa, défice público e um tímido crescimento económico, vai impulsionar a saída dos capitais que já se encontram no país. Com estes dois problemas os indicadores macroeconómicos no país estão condenados ao fracasso e resultados indesejados.


Nos últimos anos tem-se assistido um certo aumento do investimento externo no país, mas ainda ninguém fez as contas de onde vem e para onde vai esses capitais. Grande parte dos investimentos externos não têm em conta o mercado nacional e pouco ou quase nada é o contributo nacional nestes investimentos. Assim o país fica como que um lugar de caça aos capitais para depois serem repatriados de novo para o exterior.


Quando se fala em investimento em Cabo Verde, raríssimas vezes não se trata do sector turismo. A história então resume-se no seguinte: um operador turístico investe em Cabo Verde para promover a ida dos turistas. Tudo, ou quase tudo, será importado para oferecer um bom serviço. No fim, dadas as condições macroeconómicas referidas acima, o capital será repatriado para a origem do investidor, ou para qualquer sítio onde se oferece melhores condições de investimento. Levando o país a enfrentar severas dificuldades no fomento do crescimento económico.


Regozijamos sim com as notícias de Doing Business, regozijamos sim com alguns pontos citados pelos relatórios do FMI, alegramo-nos por sermos um país de rendimento médio, por sermos o país mais democrático e melhor governado da África, mas isso não é o prémio de uma boa governação. O objectivo último de qualquer política económica é ter um crescimento económico rápido e sustentável, uma taxa de inflação estável e ainda geradora de emprego. Tudo isso para gerar a confiança do mercado internacional e nunca dar razão ao Standard & Poor’s para duvidar das políticas económicas nacionais. Resumindo, uma política deve basear-se em factos reais e não em análises qualitativas.

Gilson Pina

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